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Dividendos: alguns mal entendidos





Quando se trata de investir em ações, dividendos são certamente uma parte importante da equação. No entanto, não há provas concretas de que concentrar-se em dividendos é uma decisão acertada.
Às vezes, os investidores tendem a pensar que a melhor coisa para se ganhar dinheiro no mercado acionário é investir em companhias que proporcionam retornos estáveis sob a forma de dividendos. No entanto, esta abordagem não é a maneira ideal de investir dinheiro. Dividendos nem sempre significam que tudo vai bem com a empresa. Às vezes, quando anunciam pagamento de dividendos, as empresas geralmente fazem este truque para aumentar seu valor (preço das ações). A conclusão é que há mal-entendidos sobre o assunto de dividendos. 
Vamos nos concentrar em alguns mal-entendidos comuns que os investidores vêem com relação a dividendos:

Primeiro mal-entendido: Empresas que pagam dividendos significam estabilidade e gestão eficiente
Os investidores tendem a acreditar que se uma companhia tem um longo retrospecto de pagamento de dividendos, ela é uma companhia estável. Eles acreditam que estas empresas têm lucros fortes e fluxos de caixa positivos, e, portanto, estão aptas a pagar dividendos. Também há uma crença disseminada de que quando as empresas pagam dividendos, os “rendimentos totais” das ações superam os de outras ações que não pagam dividendos.
Apesar de não termos como negar o fato de que quando as empresas anunciam dividendos, isto significa que elas retiveram seus lucros, nós não sabemos se a empresa conseguirá manter sua tradição de pagamento de dividendos no longo prazo.
Por exemplo, uma empresa que atua numa indústria madura pode estar gerando pagamentos semestrais ou anuais de dividendos por 15 anos seguidos. No entanto, por estar agora numa indústria madura, o ciclo de vida do produto pode estar se aproximando de seu fim. Em alguns casos, decisões estratégicas erradas tomadas pela diretoria, ou a eleição de uma nova liderança que acaba se mostrando fraca, podem facilmente destruir os lucros de uma empresa, sua imagem, e com isso, comprometer sua capacidade de pagamento de dividendos. Nós nunca podemos ter certeza de que a empresa conseguirá manter fundamentos corporativos saudáveis a longo prazo.
Também tendemos a pensar que quando uma empresa paga dividendos, isto reflete a eficiência de sua diretoria. Além disso, acreditamos que, como uma empresa está pagando dividendos, ela seguirá uma disciplina financeira. Acreditamos firmemente que a empresa calcula suas despesas e investimentos de maneira mais cuidadosa e evitam projetos que não são eficientes por temer que seus acionistas punirão suas ações se a empresa não conseguir gerar lucros aos seus investidores.
Este argumento é certo, mas ele não necessariamente significa que as empresas nunca errarão. Por exemplo, em setembro de 2008, a AIG, uma das maiores seguradoras do mundo, anunciou um dividendo de $ 4,40 – um “dividend yield” de quase 4%. No entanto, após o colapso do setor imobiliário dos EUA, ficou claro que a AIG e outras empresas como a Freddie Mac, Fannie Mae, Bank of America, Bear Stearns e Citigroup estavam longe de ser companhias financeiramente disciplinadas, apesar de passarem longo tempo como empresas que pagavam dividendos. Com isso, nós aprendemos uma importante lição: dividendos não são um grande indicador de disciplina financeira ou de qualidade da diretoria de uma empresa.

Segundo mal-entendido: Fique tranquilo quando investir em dividendos de empresas fortes
Muitas vezes, os investidores tendem a acreditar que uma empresa sólida nunca reduz ou interrompe o pagamento de dividendos. Este é um conceito errado. Dividendos são lucros retidos, que são afetados pelas exigências financeiras futuras das empresas. Às vezes, uma empresa pode reter dividendos por estar esperando uma fusão ou uma aquisição. E às vezes, uma empresa pode necessitar de recursos financeiros para alguns projetos futuros, ou para a compra de uma fábrica ou uma propriedade.
No entanto, reter dividendos devido à exigências financeiras não é o único motivo por trás dos cortes de dividendos. Decisões corporativas ruins por parte das diretorias não só fazem estas empresas reduzir seus dividendos, mas em alguns casos fazem estas companhias pararem de pagar dividendos.
Às vezes, as diretorias das empresas mantêm um grande volume de caixa como reservas, explicando os motivos para isto, e reduzem o pagamento de dividendos. No entanto, isto pode ser contraproducente, já que a diretoria poderá tornar-se complacente com um grande volume de caixa. Nesta situação, a empresa poderá gastar demais em aquisições, campanhas de marketing, etc, podendo levar a uma redução de valor ao acionista.
O conceito de que os dividendos permitem que você seja pago para esperar não faz sentido do ponto de vista econômico. Na verdade, o que importa é o retorno total de sua carteira, não o rendimento atual. Durante a grave recessão econômica que ocorreu após a crise do crédito, entre 2008 e 2009, as empresas reduziram ou suspenderam os seus pagamentos de dividendos de maneira recorde, provando que não há garantias para quem investe nestas empresas.

Terceiro mal-entendido: Detentores de dividendos têm tratamento tributário preferencial e as ações que pagam dividendos são a melhor alternativa 
Este conceito errado diz que as ações que pagam dividendos são melhores do que as outras ações porque as ações que pagam dividendos são geralmente menos taxadas ou possuem tratamento preferencial. Sim, faz sentido pagar menos impostos. No entanto, as consequências são grandes. Isto significa que para pagar menos impostos, você está evitando as companhias que não pagam dividendos, mas que potencialmente geram mais lucros através de ganhos de capital.
Em segundo lugar, não há provas de que as ações de dividendos são instrumentos financeiros que geram mais renda. O investidor convencional é aquele que possui uma estratégia de investimento que busca conservar o valor de uma carteira de investimento ao investir em ativos de menor risco, como renda fixa, e em muitas vezes, nas blue chips ou ações das gigantes de mercado com potencial de crescimento e ganhos de capital assegurados. Por outro lado, investir em ações de dividendos tem seu próprio risco: não só estas ações podem perder seu valor, como também o pagamento de dividendos no passar do tempo também poderá diminuir ou acabar.

Quarto mal-entendido: Dividendos trazem potencial de crescimento dos lucros e proteção durante a desaceleração da economia
Outro mal-entendido entre os investidores quando falamos de dividendos é que eles oferecem uma fonte estável de receitas que podem ajudar a compensar em parte a depreciação dos preços dos ativos no mercado, típica de mercados turbulentos. Ou seja, quando você possui ativos que geram dividendos, poderá evitar a montanha-russa do mercado acionário. Isto o ajudará contra o alto nível de especulação e de volatilidade de mercado, já que os dividendos auferidos durante o período compensará qualquer perda sob a forma de prejuízos de capital. Este argumento não se sustenta.
Podemos provar isto ao analisar o desempenho histórico do mercado acionário. Os ganhos de capital das ações em quase todos os mercados acionários do mundo superaram com folga o volume total de dividendos ganhos durante o mesmo período. Por exemplo, pesquisadores do mercado acionário dos EUA descobriram que, desde 1926, enquanto os dividendos proporcionaram cerca de apenas um terço do retorno total do S&P 500, a valorização do capital, ou o nível de valorização da ação proporcionou os outros dois terços. Portanto, o foco exclusivo em dividendos, que geraram menos retornos do que valorização do capital, não faz sentido, especialmente porque o foco em ações que pagam dividendos é uma estratégia que gera o mesmo risco.
Na realidade, seu potencial de crescimento de renda depende da manutenção do tipo certo de carteira, conforme explicamos anteriormente. 

Quinto mal-entendido: Ações que pagam dividendos são boa alternativa para investidores conservadores e aposentados
Uma vez, o The Wall Street Journal afirmou que investir em bônus não é algo tão válido porque a maioria dos bônus de rendimento fixo não oferece qualquer proteção contra inflação e podem perder valor quando os investidores estão preocupados com o aumento da inflação no futuro. Por outro lado, segundo o jornal, o aumento dos dividendos, assim como qualquer valorização do preço da ação da empresa que paga estes dividendos, oferece uma espécie de seguro contra inflação. Este conceito pode ser enganador uma vez que todos os investimentos em renda variável oferecem uma espécie de seguro contra inflação, não apenas as ações de dividendos.

Conclusão
Dividendos podem oferecer um fluxo constante de renda para os investidores. No entanto, nem todas as ações que pagam dividendos valem a pena o investimento. Os investidores precisam primeiramente se focar nos fundamentos de uma empresa, e ver se vale a pena investir. Se uma empresa é fundamentalmente forte, ela sempre criará riquezas para seus acionistas.

Por: Jeffrey Dean
Fonte: 

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