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Especulação Parte IV

Crise Imobiliária nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a classe média percebeu que é um bom negócio hipotecar suas próprias casas: com o dinheiro conseguido a juros não tão altos, injetavam capitais no mercado de ações, visando receber juros maiores que os pagos às empresas de hipoteca (como no exemplo acima) e assim, a médio ou longo prazo, terem um patrimônio maior em ações que o valor pago nas prestação de hipoteca.
O problema foi quando houve a recente desvalorização dos imóveis, com a queda da procura: a mesma classe média detentora de tantas ações, teve seu patrimônio (imobiliário) depreciado e começou a não pagar as parcelas de hipoteca, levando as hipotecadoras a terem prejuízos vultosos. Essas empresas servem como intermediadoras entre investidores, que alimentam os fundos de hipoteca, e as pessoas, que consomem o serviço; já que os clientes não pagam, os investidores não recebem.
Ou seja, as ações que a classe média comprou, foi com o dinheiro desses investidores: um mesmo capital replicado para servir ao mercado imobiliário (imóveis) e mobiliário (títulos e ações), uma bolha.
Para amenizar o prejuízo, tais investidores começaram a vender suas ações de várias empresas (inclusive de empresas que nada têm a ver com imóveis ou construção civil), causando uma maior oferta em relação a procura, levando a queda na cotação de muitas ações. Esse foi o estopim, como em um efeito dominó, com a forte queda de ações, outros acionistas (que nada têm a ver com o mercado de imóveis ou hipoteca) também começaram a vender suas ações para fugir da desvalorização, aumentando ainda mais a oferta em relação a procura, gerando ainda mais queda e assim por diante, quase sem freios.

A matéria da revista veja de 2006, abaixo, já anunciava o que hoje sabemos qual foi o desfecho de uma possível bolha imobiliária nos EUA. Impressionante é que tudo era tão evidente e nada foi feito para se evitar.

conomia e Negócios
A maior bolha 
econômica da história
Febre imobiliária infla o patrimônio dos
americanos em 5 trilhões de dólares.
Mas essa festa pode ter um final triste
http://veja.abril.com.br/veja_online_2003/imagens/fioAssinatura.gif

Chrystiane Silva e Giuliano Guandalini
Em 1991, o valor somado dos imóveis do Japão atingiu 18 trilhões de dólares, quatro vezes o preço de todos os prédios e casas dos Estados Unidos na época. Apenas o terreno do Palácio Imperial, em Tóquio, valia mais que todas as casas e prédios da Califórnia juntos. Embora fosse o auge da ascensão econômica e financeira do Japão, o preço estava muito além de quaisquer bons fundamentos econômicos. A bolha estourou, e vários dos bancos que financiaram a especulação imobiliária quebraram. O Japão entrou num longo período de estagnação econômica e os imóveis agora custam a metade do que custavam naquela época. Passados quinze anos, são os Estados Unidos que experimentam o mesmo fenômeno – só que em dimensões e com riscos muito maiores.
Os dados são impressionantes: nos últimos dez anos, o preço médio das novas casas subiu 85%; metade dos empregos criados no setor privado americano desde 2001 relaciona-se ao setor imobiliário ou afins; em Manhattan, coração de Nova York, um apartamento de dois quartos custa em média 1,2 milhão de dólares. Diz-se que bolhas econômicas existem quando o preço de um determinado ativo sobe muito mais do que os conceitos econômicos conseguem explicar. É o que estaria ocorrendo hoje, segundo a maioria esmagadora dos economistas. Prova disso, dizem eles, é que a inflação, a renda e até os aluguéis nos EUA não acompanharam esses preços. Nos últimos dez anos, por exemplo, o valor do metro quadrado em Manhattan subiu 130%. No mesmo período, a inflação americana ficou em 25%. Se há uma bolha, como sustentam os economistas, ela um dia vai estourar, criando crises em cascata. Uma queda abrupta nos preços deixaria os americanos menos ricos e afetaria o crédito e o consumo – o que provavelmente afundaria o país numa recessão, com efeitos óbvios sobre toda a economia mundial. Na prática, se o preço dos imóveis despencar, os mutuários não conseguirão quitar os empréstimos que contraíram para comprá-los. A maioria dá o calote nos bancos, que, para ajustar seus balanços, cortam empréstimos às empresas. Daí à recessão é um pulo. Esse é o roteiro normal. Mas nesse caso existe uma agravante. Os consumidores e o ágil sistema financeiro americano descobriram uma maneira de ganhar ainda mais dinheiro com a própria bolha, usando suas casas como verdadeiros caixas eletrônicos. O mecanismo funciona da seguinte maneira: um imóvel comprado por 100.000 dólares há cinco anos pode valer hoje 150.000 dólares; o comprador vai até o banco, renegocia a hipoteca e faz um empréstimo dando como garantia essa valorização de 50.000 dólares. Se o preço dos imóveis desabar de uma hora para outra, o dono da casa terá dificuldades para quitar o empréstimo e fatalmente reduzirá os gastos de consumo. Como milhões de famílias americanas embarcaram na febre imobiliária, o estouro na bolha teria um grande efeito em cadeia em toda a economia do país, com possíveis abalos no sistema financeiro.
Essa bolha, inflada pelas baixas taxas de juro, é atualmente o principal propulsor do crescimento da economia americana. A valorização anormal no preço das moradias tornou os americanos 5 trilhões de dólares mais ricos em dez anos, já descontada a inflação. Parte dessa montanha de dinheiro transformou-se em gastos, o que sustentou os elevados níveis de consumo no país nos últimos anos e mais que atenuou a alta do petróleo. O problema é que nenhum economista acredita que essa febre imobiliária se sustente, e, de fato, já existem sinais de arrefecimento no mercado imobiliário americano. O estouro dessa bolha é apontado pelos principais economistas do planeta como um dos maiores riscos para a economia mundial. A grande incógnita é saber até quando essa bolha durará – e qual será o tamanho do tombo quando o ajuste nos preços fatalmente ocorrer. Segundo cálculos do economista Dean Baker, do Center for Economic and Policy Research, o fim da bolha poderia significar uma queda entre 3,6 e 4,5 pontos porcentuais na taxa de crescimento do PIB. Ou seja, deixaria o país à beira de uma recessão. Isso ocorreria por dois motivos: um direto, que é a queda na atividade imobiliária; outro indireto, que é a freada no consumo que resultaria da eliminação do efeito riqueza. Outros economistas não acreditam em cenários catastrofistas. "O ajuste será feito com gradualismo, não haverá mudanças abruptas que prejudiquem mutuários ou que façam a maior economia do mundo perder o equilíbrio", diz Mauro Miranda, especialista em investimento imobiliário da Fundação Getulio Vargas. E o que aconteceria com o Brasil se a bolha estourasse? Teoricamente, a redução no consumo americano afetaria as exportações brasileiras, mas não se sabe em que proporção. Riscos como esse fazem lembrar que a atual fase de crescimento da economia mundial não será eterna. E exigem de países como o Brasil pressa nas reformas que geralmente ficam na gaveta em tempos de bonança.



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