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Será que "Vale" a pena?

Existe uma questão ética que precisamos abordar neste momento em que, mais uma vez, pessoas morreram em função de estouro de barragem em Brumadinho, apenas três anos depois da tragédia em Mariana, também em Minas Gerais.

Esses acontecimentos me lembra a história de Édipo de Sófacles. Não é uma história muito conhecida: uma criança foi encontrada por um pastor e entregue ao rei Pólibo, que o criou como filho.

Já na sua fase adulta, Édipo se envolveu em uma briga na estrada com um príncipe desconhecido, nesta confusão acabou matando o príncipe. Tempos depois Édipo se casou com a Rainha Jocasta e se tornou rei.

Nunca passou pela cabeça de Édipo que o homem que ele havia matado tempos atrás era seu pai e pior ainda, a sua atual mulher, a rainha era sua mãe. Neste ínterim os seus súditos passavam pelas piores privações como epidemias e fome generalizada.

No momento em que descobriu que todo o sofrimento e desgraça da população era por sua causa (suponho que acreditava ser castigo de Deus), furou os olhos com grandes espinhos e, cego para sempre, sumiu de Tebas.

Aqueles que pensam que desastres como este de Brumadinho são obras exclusivas de empresários e investidores inescrupulosos que colocam o lucro a acima de tudo, deixam na escuridão uma verdade essencial:

As grandes corporações não foram feitas por criminosos, mas sim por grandes empreendedores que acreditam fazer um grande bem para o progresso, a economia e a sociedade.

Neste sentido executam como entusiastas seus trabalhos e recriminam quem é contra a formação destas grandes barragens ou a intervenção no meio ambiente pelas mineradoras. Afinal de contas, o minério de um modo geral faz parte do dia a dia de todas as pessoas deste planeta.

Com a ocorrência destas desgraças, nós apontamos o dedo para as empresas e as autoridades: – Vocês são responsáveis por toda essa desgraça! pela morte de pessoas, animais e contaminação do meio ambiente!

Por sua vez os grandes executivos das empresas, os responsáveis por fiscalizar e os políticos respondem… Não sabíamos, foi acidente. Tudo estava monitorado e sobre controle. Somos inocentes!

Assim conduzimos um debate no sentido de… não sabiam ou apenas fingiam não saber? Com certeza vamos encontrar pessoas que tinham algum conhecimento de riscos de possíveis acidentes ( mesmo que pequenos) mas a grande maioria realmente não sabia nem suspeitava de nada.

Como escreveu Milan Kundera, no livro a Insustentável Leveza do Ser, sobre a ocupação Soviética:

A grande questão NÂO é: Sabiam ou não sabiam? Mas SIM: alguém é inocente apenas por não saber? um imbecil sentado no trono estaria isento de toda responsabilidade pelo simples fato de ser um imbecil?

Vamos admitir, um investidor que comprou ações da Vale antes do desastre de Mariana poderia dizer que não sabia. Ele diria: minha consciência está limpa, eu não sabia. Mas não seria exatamente neste seu ¨ eu não sabia! que reside sua falta irreparável?

Voltando a história de Édipo: ele não sabia que tinha assassinado o pai e estava dormindo com sua própria mãe. Mas quando entendeu o que ocorreu, não se sentiu inocente.

Poderia ter dito apenas… Não sabia! No entanto não suportou a infelicidade causada por sua ignorância, se auto puniu e cego, nunca mais foi visto em Tebas.

E nós investidores, trabalhadores e contribuintes? Em função de nossa ignorância, vidas foram e continuarão sendo ceifadas e mesmo assim, nós apontamos o dedo para os outros como se fossemos totalmente inocentes.

Como podemos olhar a nossa volta sem nenhuma culpa? Talvez não temos olhos para ver isso! Pois se tivéssemos, deveríamos fura-los e deixar Tebas!

Bibliografia: A insustentável leveza do ser – Milan Kundera

**Se você é o autor da fotografia do corpo deste artigo, entre em contato para ser creditado autoria de imagem.

**Arte de capa por Os Gêmeos

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