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O mundo do descartável

Você já sentiu a necessidade de trocar um produto por outro pelo simples fato de ele ter um arranhão, uma pequena fissura? Já tentou mandar um objeto para consertar e observou que o preço é muito próximo de adquirir um novo? Já se sentiu deslocado em algum lugar por não usar a roupa da moda ou por não aderir a produtos e serviços que todos possuem? Já se sentiu por fora de uma conversa porque não assina Nettflx ou porque não usa alguma rede social?

As perguntas e exemplos beiram o infinito, mas existe um único motivo para existência dessas perguntas:

A Obsolescência Programada

A indústria, de um modo geral cria e desenvolve de forma proposital produtos e serviços com prazo de validade curtos, tão curtos que mesmo antes de sair da loja com o produto novo, já estão prestes a vencer. O aparelho de telefone celular é o exemplo mais clássico desse tipo de validade programada.

Neste sentido a obsolescência programada pode ser dividida em duas formas, todas elas muito efetivas:

Obsolescência técnica

Já observou como os aparelhos de barbear se desgastam com enorme velocidade? Isso vale para roupas, sapatos à produtos mais sofisticados. Os produtos são criados e desenvolvidos com vida útil limitada para que a compra e troca por novos seja necessária.

Obsolescência Perceptiva

Este é o formato de obsolescência mais perceptível no dia a dia das pessoas. Tenho uma amiga que adora Iphone, porém ela não tem uma renda compatível com o preço exorbitante de um aparelho de 6 mil reais, Mesmo assim ela sempre está com o aparelho mais atual da marca. Mesmo sabendo que seu telefone está em perfeito estado de uso, ele perdeu a validade perceptiva quando foi lançada uma nova atualização, com novo design e alguma melhoria (imperceptível) em sua configuração.

Vemos esse tipo de estratégia também ser muito utilizada pela indústria automotiva, carros sofrem pequenas alterações no para-choque, na lanternas e faróis e a percepção de alguém que está com o carro do ano passado é de que o atual que é melhor, neste case se sente frustrado e acredita que a troca e atualização é necessária.

Você conhece alguém que faz isso?

A Publicidade e o Crédito

O que faz a minha amiga pagar mais do que ganha para obter um Iphone atualizado e também querer, antes mesmo de pagar as doze parcelas que financiou, querer o novo lançamento?

A resposta  vem dessa dupla que são essenciais para o modelo de consumo em sociedade que vivemos atualmente:

A Publicidade

Criar a necessidade de consumo, a vontade de fazer parte e o inexplicável desejo de possuir e usar coisas são tarefas muito bem desempenhadas pelo marketing. Sem o crescimento e aprimoramento dos canais de promoção seria muito difícil empregar o ritmo de consumo ao qual estamos vivendo hoje.

Os novos meios de marketing digital tornam o próprio consumidor em produto, na medida em que oferecem entretenimento ou algum serviço em troca de audiência.

O Crédito

Para fechar a conta e trazer bilhões de pessoas que não tem recursos para aquisição de produtos de maior valor, o crédito veio como a ferramenta ideal, que além de possibilitar o consumo, também criou um novo mercado de serviços financeiros a ponto de hoje, o crédito no mundo ser bem maior do que a quantidade de dinheiro existente para paga-lo.

A ideia de Sociedade Líquida

Uma das grandes consequências deste modelo de consumo é o emprego do mesmo conceito para as relações humanas. Desta forma, assim como se troca uma camiseta porque não está mais na moda, amizades, namoros, pessoas passam também e receber esse mesmo conceito tão popularmente difundido por Bauman como Modernidade Líquida.

O famoso network, tão difundido e aconselhado no mundo corporativo, faz de pessoas apenas produtos à serem acumulados conforme a necessidade de uso. Fazemos trade de pessoas, extraímos o máximo delas e descartamos quando não são mais úteis. Afinal de contas, aceitamos essa relação de interesse como amizade. Não é mesmo?

O escravo de contas

Fechando essa tríade que são: A obsolescência programada, o marketing e o crédito, criamos o que chamo de escravo de contas. Aquele indivíduo que vive para pagar contas sem observar que não passa de uma pequena engrenagem dentro de uma grande máquina consumista no mundo do descartável.

Observar nossas reais necessidades e desejos, sem se basear no que nossa sociedade vive e prega seria a melhor forma de se livrar dessa grande armadilha da vida real chamada obsolescência programada.

Somos seres facilmente influenciáveis, desejamos aprovação social ao ponto de abrir mão de valores pessoais ou nem sequer questionar se os que defendemos fazem algum sentido.

Acho vale perder alguns minutos e pensar sobre isso.

Imagem por Nathan Copley – Pixabay

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