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O crescimento da empresa é sempre algo bom para o investidor?

Essa semana, li um artigo bem interessante escrito por Ben McClure. O texto trata das empresas de crescimento (growth stocks), que normalmente são opostas às empresas de valor (value stocks), que não teriam tanto potencial de crescimento quanto às primeiras.
Alguns investidores (como Peter Lynch) preferem as empresas de crescimento, porque, como os preços das ações, no longo prazo, tendem a acompanhar o lucro das empresas, as cotações dessas companhias tenderiam a ser mais lucrativas que as das empresas de valor. Para outros (como Warren Buffett), essa distinção entre empresas de valor e de crescimento não tem muito sentido, já que empresas de crescimento comprovadamente bem sucedidas também seriam empresas de valor.
Independentemente dessa controvérsia, o texto de McClure aponta alguns problemas que o investidor deve averiguar antes de investir em empresas de crescimento, porque o crescimento demasiado nem sempre é um bom negócio.
O primeiro fator salientado por McClure é que nem sempre o crescimento rápido demais nos lucros é algo bom. Citando um estudo da Universidade Estadual da Califórnia, promovido por Cyrus Ramezani, McClure aponta que as companhias que tiveram o crescimento nos lucros mais rápidos, com crescimento anual de 167% (!) em um período de dez anos tiveram um desempenho no mercado acionário pior do que empresas que tiveram um crescimento anual no lucro menor, mas consistente (uma média de crescimento anual no lucro de 26%). Isso ocorreu porque as empresas que tiveram um crescimento nos lucros acelerado demais não são capazes de manter o nível de crescimento ao longo do tempo.
Outro problema é o preço do crescimento. Empresas que crescem rápido demais precisam ter uma estrutura compatível com aquele desempenho – máquinas e funcionários custam muito dinheiro. Caso a empresa cresça rápido demais, pode ter que começar a tomar empréstimos em demasia para poder arcar com aqueles custos e isso, ao longo do tempo, pode minar o potencial de ganhos da empresa. O artigo cita o caso da empresa WorldCom que, para manter o ritmo do  crescimento de seus lucros, teve que comprar empresas pequenas de telecomunicações – até o ponto que a empresa  tornou-se tão grande que as agências reguladoras impediram a aquisição de mais empresas, por causa da concentração de mercado. Com isso, as perspectivas de crescimento foram frustradas e, com ela, os preços das ações da companhia.
Outro problema das empresas de crescimento é saber quando parar de crescer – quando os custos do crescimento se tornam tão elevados que um aumento ínfimo do lucro requer gastos cada vez maiores, é melhor gastar o lucro com dividendos para os acionistas do que reinvesti-los na atividade produtiva, com vistas a aumentar os lucros futuros. Para citar um exemplo, McClure mostra o caso da McDonald’s, que por vários anos insistiu na estratégia de expansão da rede (com custos cada vez maiores), até ter prejuízo em 2003, quando reexaminou sua política de crescimento. Nas palavras de McClure, “a expansão não apenas corroeu os lucros, mas comeu grande parte do fluxo de caixa da empresa, que poderia ter ido para os investidores na forma de dividendos polpudos.
Portanto, cuidado ao investir em empresas de crescimento: o ritmo de crescimento de lucros que você espera é compatível com o tamanho da empresa?
29 de setembro, 2010 às 10:51
Fonte: http://blogs.advfn.com/artigos/investimentos/o-crescimento-da-empresa-e-sempre-algo-bom-para-o-investidor

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