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Principais erros dos iniciantes da bolsa


Postado por Bruno Yoshimura, 17 de julho de 2008

Este post descreve alguns dos principais erros cometidos por iniciantes na bolsa. Para quem já sabe o que está fazendo, alguns dos itens podem não parecer um “erro”, mas sim uma estratégia de investimento.

1) Concentrar compras em um período curto de tempo

É muito comum ver iniciantes investindo grande reserva de dinheiro de uma vez só. Mas o mercado é imprevisível, não sabemos se estamos comprando antes de um período de grande queda.
Por esta razão, é interessante fazer compras em períodos espaçados para conseguir um preço médio justo. Boas oportunidades de compra surgem para aqueles que sabem aguardá-las.

2) Investir dinheiro que vai precisar no curto prazo

O movimento do mercado é imprevisível e irracional no curto prazo. Investir dinheiro comprometido, mesmo em uma excelente empresa sub-precificada, é uma péssima idéia. O mercado só passa a ser racional no longo prazo.
Muitos investem reservas financeiras em especulações de curto prazo e acabam vendendo as ações na baixa, exatamente quando precisam do dinheiro.
Para quem precisa do dinheiro no curto prazo, vale a pena investir em títulos públicos ou fundos de renda fixa. Caso opte pela primeira opção, procure casar o vencimento do título com a data em que vai precisar do dinheiro (se precisar do dinheiro em 1 ano, compre um título que vença em um ano).

3) Seguir carteiras mensais sugeridas por bancos

Bancos e corretoras costumam montar uma carteira concentradas com até 10 ativos e atualizam mensalmente. A idéia parece interessante, mas acaba sendo uma sacanagem com os investidores.
O grande problema é que o dinheiro gasto com corretagem e imposto de renda acabam corroendo o lucro (isso quando ele existe). Movimentar mensalmente a carteira dá muito trabalho, pois você pode acabar perdendo o incentivo de isenção de IR e precisa fazer cálculos mensais.
Nessa condição, o investidor acaba conseguindo rendimentos bem inferiores ao próprio Ibovespa. Quem fica rico, no final, são os bancos.

4) Comprar na alta e vender na baixa

Pode parecer óbvio que ninguém vai comprar na alta e vender na baixa. Mas quem segue a euforia o mercado, tem grandes chances de fazer isso.
Comprar quando todos estão comprando e vender no desespero quando todos estão vendendo, é seguir o mercado. E ao fazer isso, você pode perder muito dinheiro.
Buffet e outros grandes investidores ensinam que precisamos fazer o contrário. Comprar quando todos estão vendendo, e vender quando todos estão comprando (ou seja, comprar na baixa e vender na alta). Obviamente que as ações compradas precisam ser de empresas que se encaixam em sua estratégia.

5) Ficar 100% comprado em ações, sem reserva

Para investidores de longuíssimo prazo (20, 30 anos) pode até fazer sentido um posicionamento total em ações. Mas isso nunca deve ser feito.
O motivo é simples: Historicamente, o mercado sempre apresenta grandes quedas. Essas quedas são excelentes oportunidades de compra para quem possui reserva. Entre as últimas quedas estão:
  1. Nov/1998: Crise da Rússia;
  2. Dez/2000: Bolha da internet;
  3. Jan/2008: Sub-prime e recessão norte-americana.
Na bolha da internet, o índice Dow Jones caiu pela metade e o Nasdaq caiu para 1/3 de seu valor. Uma excelente oportunidade de compra para quem possuía reservas!
Graham propõe em sua obra The Intelligent Investor uma exposição entre 25% e 75% em ações e o restante em títulos. Quando mais precificado (“caro”) o mercado fica, menor a exposição em ações.
Nessa situação, sempre teremos uma reserva para comprar ações sub-precificadas após grandes quedas de mercado.

6) Misturar dinheiro especulativo com investimentos de longo prazo

É difícil ficar longe das especulações do dia-a-dia. O que não podemos fazer é confundir o dinheiro de longo prazo com o especulativo. Investimentos de curto prazo precisam ter objetivos bem definidos (tanto de lucros quanto de prejuízos).
Pessoas que não limitam a perda em especulação de curto prazo acabam deixando aquele prejuízo como um investimento de longo prazo. O problema é que na especulação, a empresa geralmente não é analisada em seus fundamentos e esse “investimento” desfundamentado acaba virando um pesadelo.

7) Seguir recomendações de blogs, fóruns e amigos

Suspeite de qualquer dica quente ou recomendação, mesmo que do seu melhor amigo. Afinal, quem vai amargurar o prejuízo é você. Mesmo aquelas “dicas quentes” que circulam nos bastidores do mercado financeiro podem ser perigosas, pois você pode ser o último e receber tal dica.
Isso é válido também para bancos, que às vezes recomendam empresas que nunca comprariam na mesma situação. Veja o caso Henry Blodget que recomendava, em nome do Merril Lynch, a compra de empresas que sabia ser um lixo.
O que eu considero muito perigoso são as recomendações que circulam na internet, fóruns e comunidades. Todos os dias eu vejo pessoas recomendando compra “micos” para iniciantes, que mal sabem que essas empresas não valem nada (a maioria delas está com patrimônio líquido negativo, ou seja, falida). Alguns exemplos: TELB4, TOYB4, WISA4, GAZO4, ESTR4, HOOT4.

Minha recomendação para quem está começando?

Leia muito! Relatórios, textos sobre grandes investidores, livros sobre análise fundamentalista, relatórios anuais das empresas. Em breve lançaremos a parte do blog com links para sites interessantes.

Bruno Yoshimura

Formado em Ciência da Computação pela USP, atualmente é sócio-fundador do Kekanto um guia colaborativo de RestaurantesBaresBaladas, etc. Considera a economia um hobby e segue o estilo de investimento baseado em valor. Siga no Twitter @brunoyoshimurae no Linkedin:Bruno Yoshimura

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