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Um covarde... com orgulho!

Faz um ano que larguei meu emprego, lembro muito bem daquele dia. Foi uma sexta feira chuvosa de outono, estava um pouco frio. Eu olhei minha mesa e todos as outras naquele andar enorme vazio,  já estava tarde, umas 21h da noite. Desliguei minha máquina, recolhi minha garrafa e a minha inseparável caneca de café, de longe ainda escutava alguém digitando, com certeza algum pepino de ultima hora segurou aquela colega de profissão, com raiva por estar longe da família, ou até mesmo do famoso happy hour de sexta feira que mais funciona como um escape para lidar com a frustração de uma vida vazia.

Quantas vezes também tive que ficar até mais tarde para conseguir fazer as coisas acontecerem, aquele dia era diferente, fiquei até mais tarde, mas era para não deixar nenhuma pendência de uma vida que tinha decidido deixar para trás. Eu já estava decidido há duas semanas e não tinha volta, senti medo, mas também estava cheio de esperança. Um misto de adrenalina e cagaço, confesso que estava com medo, e para ser sincero, ainda sinto de vez em quando. Mas simplesmente virei as costas e saí, ou em outras palavras para aqueles ditos responsáveis… eu fugi.

Queimei o Navio

Tem uma história (não sei se é lenda) de um grande navegador que teve a incumbência de colonizar a América. O desafio era vencer os milhões de indivíduos que já habitam a região, com suas construções “gigantescas”, os Maias eram um dos impérios mais poderosos que já existiu nas Américas. Esse grande navegador sabendo do medo que seus comandados tiveram ao se deparar com o desafio, não teve dúvidas. Ateou fogo no navio e disso aos comandados… – “Para frente existem milhares de oponentes, atrás de vocês está somente a morte.” Quando a alternativa é a morte, ir para frente não é um ato de coragem.

Naquele dia queimei o navio, ou em outras palavras derrubei as pontes. Não sei porque, assim como para aqueles navegadores atrás de mim só enxergava a morte. A vida corporativa, cheia de processos, regras, de segunda a sexta, com horários definidos, sorrisos falsos, soberba, inveja e pessoas frustradas me soava como morte. Então me acovardei e fugi.

Covarde com orgulho

Quando falo para as pessoas que larguei o emprego e literalmente taquei o foda-se, costumam me julgar como corajoso. Alguns dizem: – Nossa… você é corajoso, é um grande desafio! Queria ter essa coragem. Apesar de agradecer o elogio, tenho que descordar dessas pessoas. Corajoso fui por quase vinte anos da minha vida – Após faculdade, estágio, cursos, especializações, MBA, muito esforço e frustração. Isso era coragem, como diz De La Cumbre:

” – Corajoso eu era antes de mandar todo esse parasitário padrão social para puta que o pariu.

… Realmente tem que ter muita coragem para dedicar a vida para ganhar dinheiro para terceiros e ainda agradecer pela oportunidade de ver a vida passando pela janela.(De La Cumbre)

Acovardei-me e fugi, com orgulho posso dizer que sou um covarde. Coloquei minha própria carne em jogo e fiz uma fé, com organização e planejamento, ou, pelo menos, aquilo que tinha e tenho a meu dispor vou fazer o meu melhor.

Não pense que ainda não me bate a tentação de voltar, todo aquele que se coloca na posição de empregado mostra uma grande predisposição para voltar a ser um cachorrinho adestrado, obediente e domesticado.

Mas como disse, queimei o navio e agora não existe retorno. Estou condenado a uma morte, talvez breve, ao esquecimento como acontece com todo covarde, mas, no entanto, livre!

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