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O desapego é libertador

Não é de hoje que pregar o desapego como forma de viver com mais leveza é defendido. Muitas filosofias já documentaram essa ideia há milênios atrás. É fácil citar os estóicos, epicuristas, o budismo. Grandes pensadores como Jesus Cristo, Madre Teresa, Gandhi entre outros além de movimentos como o minimalismo, essencialismo e  o downshifting.

Independente da época, da religião ou filosofia, o fato é que o desapego é libertador.

Desapego de coisas

O aspecto mais apontado sobre desapego hoje em dia se refere ao consumo, o de possuir coisas. Eu mesmo já escrevi diversos artigos no blog sobre o problema de ser dono. A gente possui coisas e as coisas passam a nos possuir.

Não se apegar às coisas nos trás uma leveza e despreocupação que é cada vez mais rara nos dias atuais.

Desapego de pessoas

Aqui muitas pessoas farão interpretação equivocada, coisa do tipo… não ama ninguém, é pessoa fria, sem sentimentos etc. Mas observe, ninguém nos pertence, até mesmo uma pessoa já que partiu só esteve com você porque ganhou a presença dela em algum momento.

Neste sentido é uma questão de soma zero, assim como temos que ter o coração aberto para que pessoas entrem em nossas vidas, devemos deixá-lo aberto para que elas saiam, caso queiram. Até mesmo entes muito queridos como pais e filhos.

É importante saber que não nos pertencem, da mesma forma que fomos presenteados com suas presenças, poderemos, do dia para o outro, não te-los mais.

É exatamente essa percepção de mortalidade, de saber que não existe garantia de nada que é libertadora, desapegar de pessoas é muito difícil pois temos sentimentos, no entanto, perceba que o sentimento é seu, não tem nada a ver com os outros. É uma questão de altruísmo.

Desapego de status

A poucos dias minha irmã estava comentando que os amigos de profissão dela, dentistas, estavam bravos com a possibilidade de mudança de nome da profissão, eles passariam a ser chamados de médicos de boca ou coisa do tipo, ao invés de cirurgiões dentistas.

Estavam achando um absurdo essa mudança, mas a grande questão que deveria ser discutida é: Em que isso muda ou interfere na capacidade profissional ou qualidade do atendimento dos pacientes? A resposta é simples, absolutamente nada. Um exemplo clássico de desperdício de tempo por vaidade e status.

“Fazer publicidade da nossa virtude significa que nos preocupamos com a fama, e não com a virtude em si.
Não queres ser justo sem gozares da fama de o ser ?
Pois fica sabendo: muitas vezes não poderás ser justo sem que façam mau juízo de ti!
Em tal circunstância, se te comportares como sábio, até sentirás prazer em ser mal julgado por uma causa nobre” Sêneca

Idéias e ideais que não nos servem mais devem ser descartados, mudar de opinião, de valores é um exercício que devemos exercer diariamente. Com tanta polarização no mundo atual, desapegar de ser a ideia vencedora é tão libertador quanto não dever nada para ninguém.

Desapego de si próprio

Este é um grande paradoxo, mas aquele que não possui muito apego a vida, a si próprio, é exatamente quem viverá com maior intensidade e plenitude.

Há dois anos, quando ainda podíamos assistir partidas de futebol, fui na Arena do Corinthians com uma amiga, ela queria muito tirar algumas fotos, mas não foi pois ficou com vergonha das outras pessoas que estavam por perto, olhando.

Temos um grande senso de narcisismo ao pensar que os outros estão nos olhando, que falam de nós, que se importam. E mesmo se for o caso, foda-se!

Bem mais grave são os efeitos produzidos em nós pela ira e pela dor, com as quais reagimos as coisas, do que aqueles produzidos pelas coisas em si, pelos quais nos encolerizamos e sofremos.  – Marco Aurélio

Deixamos de viver com plenitude por apego à uma imagem que criamos ou que criaram da gente, para manter essa imagem nos podamos. O bom filho, a boa mãe e tudo o comportamento que se espera para não perder esse título.

Sei que é difícil, mas como é libertador ser nós mesmos sem o medo do julgamento e desapego de uma imagem que nos aprisiona.

Imagem por Khatas_photos – Pixabay

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