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Investindo em ações sem (será mesmo?) risco

Que tal investir em ações sem o risco de perder nadinha de seu dinheiro? Bom demais, não é? Pense… ganhar um dinheirão quando a bolsa estiver na alta, e não perder nada, NADA, de seu dinheiro quando crises como a de 2008 assolarem o mercado acionário. Pois saiba que esse tipo de produto existe no mercado: são os chamados fundos de capital protegido (ou garantido). Neles, você investe seu dinheiro e pode ganhar inclusive se o mercado acionário cair. Parece bom demais pra ser verdade?
Pois acredite: pode ser mesmo. “Mas Fábio, como pode ser bom demais pra ser verdade se eu posso ganhar dinheiro mesmo se a bolsa cair e não posso perder nada de meu capital?”
Para explicar isso, é importante saber como funcionam os fundos de capital protegido. Afinal, não duvide jamais dessa verdade: um banco não oferece um produto se houver uma expectativa de que ele tenha prejuízo. Se ele investe seu dinheiro no mercado de ações e garante pro cliente o capital investido, deve adotar algum mecanismo de proteção. Afinal, se o mercado cai e ele garante a devolução, no mínimo, do capital investido, o Banco terá prejuízo. Ou não?
Para garantir o retorno do capital ao investidor, uma maneira de o banco proteger o capital é investir grande parte do montante em renda fixa. Por exemplo, se ele investir 90% do capital em renda fixa e o investimento render 11,1% por ano,  em um ano ele teria 100% do capital investido. Com os 10% restantes, o banco poderia investir em ativos de mais riscos, a fim de garantir a rentabilidade prometida.
É por isso que esses fundos de investimento têm prazo: uma vez que o investidor investiu neles, somente pode resgatar o investimento na data definida pelo gestor. Com isso, garante-se que os 90% recuperaram o valor investido inicialmente.
Até aí, tudo tranquilo para o investidor: nada do que se disse até aqui é novidade, pois ele próprio poderia utilizar um mecanismo parecido com esse, por meio da diversificação de seus investimentos. Você pode investir 90% de seu patrimônio em tesouro direto, com juros garantidos pelo governo federal, e alocar os outros 10% em ações. Em aproximadamente um ano, teria garantido os 100% iniciais.
Mas — e aí é que mora o perigo — existem outros riscos para o investidor. E o principal deles está justamente nos mecanismos que o banco utiliza a favor dele para lucrar com seu dinheiro.
Boa parte dos fundos de capital protegido usam uma fórmula como a seguinte: se o iBovespa alcançar uma rentabilidade entre -20% e 40%, o banco garante ao investidor a rentabilidade gerada pelo módulo do resultado do iBovespa. Pra você que não lembra das aulinhas de matemática, módulo é o valor absoluto de uma grandeza: o módulo de -20 é 20, e o módulo de +20 também é 20. Assim, se o iBovespa tiver um resultado de -15%, ainda assim o investidor teria uma boa rentabilidade, de 15%.
Fantástico, não é? A bolsa cai 15%, e você lucra 15%. Mas… o que acontece se a bolsa cair mais de 20% ou subir mais de 40%? Dependendo do regulamento — e essa é uma cláusula muito comum — você não ganha absolutamente nada (a não ser seu capital protegido), ou ganha apenas uma taxa pré-fixada. Ou seja, a bolsa subiu 80% e você ganhou… uns 7% de rentabilidade (é, essa taxa pré-fixada normalmente é bem baixa).
“Pô, Fábio, até aí tudo bem, você quer que o banco me dê de graça a proteção do meu capital em um mercado de risco?”
Não, não é tudo bem. Se o leitor observar bem, verá que boa parte dos fundos de capital protegido são oferecidos justamente nos momentos de pânico do mercado, quando duas coisas acontecem: i) os investidores estão preocupados com a segurança de seu investimento e ii) a probabilidade de altas absurdas no mercado é extremamente alta.
Como os investidores estão particularmente preocupados com os riscos do mercado de ações nesses momentos, se tornam bastante suscetíveis a propostas de investimento desse tipo. Só que, como o mercado teve uma baixa, as chances de uma alta superior ao teto definido pelo banco são extremamente altas. Ou seja, o banco dá de retorno o módulo de qualquer rentabilidade entre -20% e +40% do iBovespa, mas as expectativas, no momento em que o mercado está em baixa, normalmente são de altas muito superiores.
Eu mesmo me lembro de que, em outubro ou novembro de 2008, muitos bancos passaram a oferecer esse tipo de investimento. Se você não lembra, nessa época o iBovespa estava com uns 30.000 pontos e o mercado, desesperado. Mas esse foi justamente o melhor momento para investir em ações — justamente a época em que os bancos, oferecendo a “tranquilidade” aos investidores, abriram vários desses fundos de capital protegido.
Em 2009, o iBovespa alcançou uma alta muito superior a 40%. Mas quem investiu num fundo de capital protegido que adotasse regras como as descritas não viu nada do lucro do iBovespa: ganhou, se muito, a “taxa pré-fixada” paga pelo banco. Um péssimo prêmio de consolação, num ano fantástico para investir em ações, como 2009.
Quem ficou com a diferença? Com toda a alta de 2009 do mercado de ações? … o banco: ele pagou pra você uns 10%, garantindo o capital, e como investiu 10% do seu patrimônio em ações, ganhou uns 18% em cima do seu dinheirinho (80% de alta em cima dos 10%). Isso sem contar as taxas de administração cobradas…
Portanto, muito cuidado ao analisar as regras dos fundos de capital investido. É importantíssimo que elas sejam muito bem compreendidas e confrontadas com o cenário mais provável do mercado de ações. Se o banco oferece um produto como esses em um período de baixa nas ações, não tenha dúvida: ele quer ganhar mais dinheiro com o SEU dinheiro.
25 de maio, 2010 às 23:07
Fonte: http://blogs.advfn.com/artigos/investimentos/investindo-em-acoes-sem-sera-mesmo-risco

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