Pular para o conteúdo principal

Mal-entendidos no mercado acionário: erros comuns cometidos por investidores

Ter sucesso no mercado acionário exige paciência, conhecimento, pesquisas aprofundadas e análise. No entanto, ainda assim, de tempos em tempos nós vemos escândalos contábeis, ciclos de crescimento e queda, manipulação do mercado acionário, e outros acontecimentos que levam investidores potenciais a evitar o mercado. Além disso, as pessoas também comumente têm conceitos errados sobre investimento no mercado acionário. Vamos analisar agora estas concepções erradas e tentar desfazer estes mal-entendidos.

Mal-entendido: Investir é jogar / O mercado acionário não é lugar de pequeno investidor

Talvez o maior motivo pelo qual as pessoas evitam as bolsas é a percepção de que investir em bolsa é como jogar. Isto não é verdade. Quando adquirimos a ação de uma empresa, nós viramos donos desta empresa. E isto dá ao acionista direito sobre os ativos da empresa e sobre o lucro que ela gera. Geralmente, os investidores ou acionistas acreditam que as ações são apenas um veículo de negociação, mas eles esquecem que estas ações representam a posse de uma fração da companhia.
As ações oscilam porque os investidores (institucionais, corretoras e pequenos investidores) especulam. Eles especulam porque o valor das ações depende dos lucros e do crescimento do faturamento de uma empresa, mas os lucros e as vendas não são algo constante. Os lucros crescerão se a economia estiver indo bem, e se a empresa estiver com um desempenho eficiente. Por outro lado, os lucros cairão se a economia desacelerar ou se a empresa não conseguir realizar seus negócios de maneira eficiente. Com isso, o valor das ações muda, enquanto as condições do mercado permanecerão estáticas.
É por este motivo que analistas e investidores bem sucedidos sempre dizem que é muito importante que os investidores estejam bem educados e bem informados. Com a ajuda de informações (jornais econômicos, notícias, relatórios industriais e relatórios sobre países) e conhecimento (capacidade de fazer análise fundamental de fatores macroeconômicos, compreender demonstrativo financeiro), o pequeno investidor pode avaliar se investir numa determinada ação será uma decisão correta ou não.

Mal-entendido: “Ações quentes” que caíram subirão, e ações que subiram acabarão caindo

Os investidores cometem erros graves ao definir altas e quedas de uma ação. A crença geral é que se uma ação está sendo negociada em seu menor nível em 52 semanas, a alta do papel é iminente. E infelizmente as pessoas cometem o erro de comprar estas ações. No entanto, o que as pessoas não entendem é que as ações não oscilam como um ciclo comercial, em que uma queda será seguida por uma recuperação e pelo crescimento.  
Vamos ao exemplo abaixo para entender.
Suponhamos que a ação ABC tenha sido negociada a R$ 60 no ano passado – cotação recorde. Neste ano, ela está sendo negociada a R$ 20.
Outra ação, PQR, que estava sendo negociada a R$ 40 no ano passado, está sendo negociada agora a R$ 30.
Se puderem escolher, a maioria dos investidores comprará a ação ABC por acreditar que quando ela atingir seu pico novamente, eles ganharão dinheiro. Agora, comprar a ação a um preço razoável é mais importante do que comprá-la a um preço baixo. As ações são depreciadas em seu valor porque os investidores não vêem mais potencial de crescimento nas ações. Nós geralmente cometemos o erro de julgar toda ação em queda como uma ação que trará valor no investimento. Estas ações são papéis desvalorizados que pertencem a empresas altamente inovadoras. As pessoas compram estas ações porque elas estão muito desvalorizadas, mas possuem um imenso potencial de valorização no futuro, por serem inerentemente fortes.
Da mesma maneira, os investidores tendem a acreditar que as ações que atingem um pico acabarão caindo um dia. No entanto, é sempre bom lembrar que as ações muitas vezes atingem um máximo porque possuem uma excelente gestão. Além disso, o valor da ação reflete esta gestão eficiente.
 

Mal-entendido: Saber pouco é melhor do que não saber nada

Em geral, as pessoas acreditam que ter algum conhecimento é melhor do que não ter nenhum. Isto é verdade até certo ponto, mas não quando estamos falando em investir na bolsa. É obrigatório que os investidores tenham bastante conhecimento; os investidores devem ter uma idéia clara sobre onde estão colocando seu dinheiro.
Não há como negar que os investidores só serão bem sucedidos se fizerem o dever de casa antes de investir. Por exemplo, do ponto de vista do investidor, as ações de tecnologia sempre merecem um maior prêmio em relação a outras ações. Este prêmio superior não significa necessariamente retornos altos. Por exemplo, há diversas empresas de tecnologia com múltiplos altos; no entanto, estas empresas não conseguem dar lucro ou gerar um fluxo de caixa positivo. Portanto, é sempre recomendável aos investidores que estejam bem informados e pesquisem bastante antes de investir em ações de tecnologia. É sempre bom quando investidores compreendem vantagens e desvantagens ou o diferencial competitivo, ou até mesmo o ciclo de vida dos produtos tecnológicos.
A conclusão é que muitas vezes o investidor se deixa levar pelo múltiplo de uma empresa. Quanto maior o múltiplo, maior será o crescimento. No entanto, nem sempre é o caso entre as ações de tecnologia. Em muitas vezes, vimos empresas mal sucedidas atraindo grandes múltiplos; porém, isto só acontece por pouco tempo, porque as perspectivas de crescimento limitado acabam com todo o valor de mercado.


Diferenciando uma boa empresa de uma empresa média

Antes de investir, precisamos aprender a arte de diferenciar um bom investimento de um mau. Nós muitas vezes nos deparamos com uma situação em que encontramos empresas operando na mesma indústria ou setor, mas com desempenhos diferentes; algumas vão melhor do que outras. O que diferencia uma boa empresa do resto? É a identidade corporativa (marca), reconhecimento da marca, alto nível de inovação em todas as áreas da administração, e é claro, forte administração. Enquanto boas empresas são fortes em todas estas áreas, as empresas médias não conseguem criar e sustentar estas qualidades.
Além disso, antes de investir, não deixe de criar uma estratégia. Saiba qual o máximo retorno que deseja com um alto nível de exposição de risco, ou estabilidade. Você quer investir em ações de “crescimento de renda”, “ações de valor”. Decida se você quer investir em ações de segunda linha, ações de médio porte, ou ações das gigantes de mercado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A realidade após três anos de FIRE

Com o último post, recebi algumas perguntas sobre como está minha vida neste momento e para matar a curiosidade de quem estiver interessado. Vou atualizar agora: A minha realidade após três anos de FIRE Investimentos Após aproximadamente 3 anos, meu patrimônio cresceu uns 25% e a renda passiva mais de 50%. Ano passado a média de reinvestimento ficou próxima de 30%, que é a meta que estipulei. A inflação tem sido uma preocupação pois meus gastos subiram por volta de 40%. Nesse sentido é muito importante ter atenção aos investimentos corrigidos pela inflação, mas também na recuperação de ativos que não seguem o ciclo econômico inflacionário, que é o caso dos fundos imobiliários. Falando em fundos imobiliários, existe uma constante tensão sobre a taxação e também as regras que estes ativos são submetidos. Enfim, esse é o risco Brasil, além disso ainda existe a constante impressão de que boa parte dos gestores de fundos estão trabalhando apenas em favor próprio. Mesmo assim ainda vejo esse...

Como eu atingi a independência Financeira

Acho que essa é uma das maiores curiosidades de alguém que está começando no mundo dos investimentos e que deseja atingir a independência financeira. Uma coisa importante que preciso falar é que nunca tive um super salário, minha profissão não tinha nada de especial, não sou nenhum gênio dos investimentos e tão pouco tive a sorte de dar a tacada certa. Eu sempre fiz investimentos, desde que comecei a ganhar dinheiro sempre guardei alguma parte, porém eu só adquiri a visão de longo prazo para alcançar a independência financeira aos 27 anos de idade, ou seja, 10 anos atrás. Então qual o secredo? Foco na Renda Quando eu tinha 27 anos, tracei um planejamento para alcançar a independência financeira aos 45 anos. E eu escolhi esse número como limite. Queria porque queria estar “aposentado com essa idade”. Nessa época eu já fazia investimentos no mercado de ações, mas meus resultados eram medianos para ruins. Foi nessa mesmo período que mudei minha estratégia de investir para ativo...

O pé sente o pé quando sente o chão

Tem uma frase famosa que algumas pessoas costumam dizer que é mais ou menos assim… “só vai dar valor depois que perder”. Obviamente, a maioria das pessoas que falam isso é porque estão se sentindo desvalorizadas, seja em um relacionamento ou no emprego. Mas não deixa de ser algo verdadeiro. É somente na ausência de algo que sentimos sua falta, neste sentido só sente falta de enxergar quem possui alguma deficiência visual, do contrário ela apenas enxerga e nem percebe a maravilha que é desfrutar deste sentido do corpo. A felicidade depende do sofrimento para que seja percebida. A frase que dá título a este post ” O pé sente o pé quando sente o chão” é de Sidarta Gautama, mais conhecido como Buda. É incrível como é verdadeira e perturbadora, só temos consciência de nosso corpo quando ele entra em contato com atrito de algo, seja uma roupa confortável ou um sapato apertado. O primeiro emprego que eu tive com carteira assinada foi como office boy em uma importante agência de propaganda e m...