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O pé sente o pé quando sente o chão

Tem uma frase famosa que algumas pessoas costumam dizer que é mais ou menos assim… “só vai dar valor depois que perder”. Obviamente, a maioria das pessoas que falam isso é porque estão se sentindo desvalorizadas, seja em um relacionamento ou no emprego.

Mas não deixa de ser algo verdadeiro. É somente na ausência de algo que sentimos sua falta, neste sentido só sente falta de enxergar quem possui alguma deficiência visual, do contrário ela apenas enxerga e nem percebe a maravilha que é desfrutar deste sentido do corpo.

A felicidade depende do sofrimento para que seja percebida. A frase que dá título a este post ” O pé sente o pé quando sente o chão” é de Sidarta Gautama, mais conhecido como Buda. É incrível como é verdadeira e perturbadora, só temos consciência de nosso corpo quando ele entra em contato com atrito de algo, seja uma roupa confortável ou um sapato apertado.

O primeiro emprego que eu tive com carteira assinada foi como office boy em uma importante agência de propaganda e marketing, eu tinha quatorze anos. Muito jovem, mas me lembro bem que no departamento de criação existia cesta de basquete, vídeo games,  uma mesa de pebolim ( alguns lugares chamam de totó). Um ambiente muito parecido com o das startups de tecnologia de hoje.

Meu departamento (expedição), obviamente não podia usar aqueles recursos da empresa, eram para os criativos, mas no horário do almoço era liberado. Eu lembro bem que montávamos duplas e competíamos com o pessoal de criação. Era visível que a vontade e prazer em jogar pertencia a nós (office boys), que tínhamos poucos minutos disponíveis para brincar naquele jogo, do que os funcionários que tinham acesso ao brinquedo a qualquer momento.

Taleb é o cara

A sensação de prazer se intensifica com a ausência. Este é um dos conceitos mais fáceis de explicar do fenômeno de antifragilidade amplamente difundido por Nassin Taleb, assim como também a volatilidade não deve ser considerada um risco.

O que seria do prazer de tomar água sem sede? De uma noite de descanso sem enfado e sono?  De um bom pedaço de pão se não existe fome?

 Os exemplos beiram o infinito, filosofias antigas já propagavam a necessidade de não evitar determinados sofrimentos. Epicuro dizia:

“[…] todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser evitadas”.

A vida FIRE sem sofrimentos

Uma das principais razões que me fizeram buscar a caminhada FIRE foi para não precisar mais acordar super cedo, passar horas dentro de um escritório cheio de pessoas que não gostava fazendo coisas que não queria. 

Tudo isso desapareceu, e da mesma forma, parte do prazer que sentia ao apreciar cinco minutos de paz, de sentir imenso contentamento ao deitar em minha cama depois de um dia estressante de trabalho.

O que quero dizer é que a ausência de determinados “sofrimentos” trouxe também menor prazer para outras coisas que dava imenso valor naquela época.

Acho que é por isso que gosto tanto de acampar e fazer trekking, existe um certo sofrimento que é recompensado ao final, seja por um simples banho ou por poder voltar a dormir em uma  cama depois de dias dormindo no chão.

A gente procura sempre buscar algo que seja mais confortável e agradável para nossas vidas, mas ao mesmo tempo prejudicamos nossos sentidos e perdemos parte de nossa humanidade ao fazer isso, como disse Buda… O pé só sente o pé quando sente o chão.

Imagem por hartono subagio  – Pixabay

 

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