Concurso público ou emprego no setor privado?

Muitas pessoas têm me perguntado algo que, à primeira vista, está fora da lista de assuntos que deveriam ser debatidos no site: “o que é melhor? estudar para um concurso público ou tentar batalhar no setor privado como empregado?”. Apesar de parecer algo que está fora da temática do site, entendo que é uma pergunta bem interessante para quem pretende investir. Afinal, para o pequeno investidor, o primeiro passo para começar a investir é justamente definir como vai ganhar o pão de cada dia  e administrá-lo – e um cargo público ou um emprego privado são duas opções a serem consideradas.

1. Concurso público: garantia de renda alta?

Todos temos pré-concepções a respeito de qualquer assunto. Mesmo que não entendam nada de um tema qualquer, as pessoas gostam de “meter o bedelho” e opinar. Quem aqui não fez isso em algum momento de sua vida? Deu sua opinião sobre o tratamento de um conhecido sem ser médico, dá pitaco sobre como a economia do país deveria ser gerida sem saber nada sobre economia? Quando eu advogava, era comum que meus clientes chegassem ao escritório dizendo que argumentos eu deveria utilizar na petição. Em alguns casos, eu tinha que dar um “chega pra lá” e reafirmar que era o profissional e que eu saberia como defender melhor seus interesses perante um juiz.
Uma das pré-concepções mais difundidas talvez seja a de que o concurso público é garantia de sucesso financeiro. É só estudar alguns meses (ou anos) para um concurso e lá vai estar um cheque polpudo no fim de cada mês. Aqui em Brasília, esse tipo de pensamento está disseminado por toda a cidade. Os cursinhos para concurso estão lotados de alunos que têm essa expectativa, e muitos pais incentivam os filhos a prestar um concurso voltado para o nível médio antes mesmo de eles entrarem numa faculdade. Muitos até preferem que os filhos sejam servidores públicos a portadores de um diploma de curso superior.
Segurança e alta renda. Parece fantástico, não é?
Mas a realidade é bem diferente. Embora alguns concursos proporcionem realmente uma renda bem interessantes, a maioria oferece menos. Bem menos. Brasília é uma exceção a essa regra porque boa parte dos cargos oferecidos são federais. Mas concursos estaduais e municipais normalmente oferecem salários bem menos atrativos que os da capital.
Mesmo entre os concursos federais, existem cargos que pagam bem menos do que os polpudos salários que são muitas vezes anunciados pela mídia. Se um juiz federal ganha em torno de R$ 20.000,00 por mês, um analista administrativo de um Ministério ganha cerca de 10% desse valor, em torno de R$ 2.500,00. Um técnico administrativo do Poder Executivo ganha em torno de R$ 2.000,00. Um procurador da fazenda nacional ganha seus R$ 15.000,00 por mês, e um consultor legislativo no Senado Federal recebe mensalmente um valor bem próximo ao do juiz que mencionei. Mas um Analista Judiciário de um tribunal federal recebe bem menos, em torno de R$ 6.500,00 no início da carreira. Para ganhar mais, ele deve receber função – e na maior parte do Poder Judiciário elas são bem raras, além de não se incorporarem ao vencimento mensal para efeitos de aposentadoria.
Se você percebeu bem, os melhores salários conseguidos a partir de um concurso público são acessíveis, na maior parte das vezes, a profissionais da área do Direito. Embora haja concursos específicos para áreas sem especialização, a maioria dos “super salários” é destinada a pessoas formadas em direito. Se você não é formado em direito, as chances de conseguir um salário de R$ 15.000,00 diminuem bastante. E, se você vive em outro lugar que não seja Brasília, as chances diminuem mais ainda (e em Brasília a concorrência é avassaladora). Um juiz de direito estadual, em determinados Estados da federação, tem uma renda bem abaixo dos R$ 20.000,00 de um juiz federal – às vezes, na casa dos R$ 10.000,00, um valor próximo ao recebido por um analista judiciário federal com uma boa função. É bastante, no contexto do Brasil como um todo, mas estamos falando de um juiz – um sujeito que se formou em direito, passou alguns anos estudando especificamente para ser aprovado neste concurso e teve que ralar ainda alguns anos trabalhando em outra profissão jurídica a fim de conseguir satisfazer os requisitos previstos na lei para ocupar o cargo. Não é fácil.
Essa é a realidade do serviço público: alguns cargos pagam muitíssimo bem, mas eles são a minoria, e dependem de muito esforço. A maioria dos cargos (principalmente nos Estados e Municípios) paga muito pouco. E, se você acha que o esforço é necessário apenas para alcançar o cargo, não se engane. Os servidores públicos trabalham, e trabalham muito. Aquela ideia de que o servidor público trabalha pouco faz parte do passado.
Existem também, claro, aqueles servidores que ganham muito porque incorporaram gratificações ao longo de sua carreira. Esse tipo de situação, contudo, também faz parte do passado: a lei, hoje, proíbe que os servidores incorporem funções, gratificações e outros “penduricalhos” de seus salários, que geraram casos absurdos de servidores públicos comuns com salários astronômicos, superiores inclusive ao teto que a Constituição estabelece.

2. Mas o setor privado paga menos do que o alcançado por meio de um concurso…

Alguém poderia dizer que, mesmo assim, o setor privado ainda paga menos que o serviço público. Infelizmente, esta ainda é a regra. Mas, por outro lado, o setor privado abre as portas para muitos caminhos que podem se tornar, ao longo dos anos, mais rentável para quem aposta nele. Se você conseguir crescer bastante em uma boa empresa, com certeza terá acesso a salários melhores do que os pagos pelo serviço público, em média.
Alguns cargos públicos distorcem o que deveria ser a lógica do mercado. Sendo estável, um servidor público deveria receber menos do que um empregado do setor privado que exerce atividade semelhante. Por quê? Porque a estabilidade tem valor econômico, oras! Se você não tem quase nenhuma chance de ser demitido arbitrariamente, isso significa que você tem um direito que pode ser quantificado economicamente. E, se você exerce a mesma função de um empregado do setor privado, deveria receber menos do que ele. Mas infelizmente não é o que acontece em alguns casos, nos quais um servidor apenas mediano ganha muito mais do que ganharia no setor privado.

3. Conclusão: prestar um concurso público ou arriscar na iniciativa privada?

Tudo depende de seu perfil. Você tem condições de sentar a bunda na cadeira e estudar horas a fio, por alguns anos, para tentar conquistar uma vaga que pague um bom salário no serviço público? Se você vai ter que trabalhar e estudar para o concurso ao mesmo tempo, suas chances já diminuem bastante: você vai ter umas quatro horas de estudo, já cansado, e vai ter uma concorrência de algumas pessoas que podem estudar, descansadas, oito ou nove horas por dia. É claro que há casos de pessoas que conseguiram passar em um bom concurso estudando enquanto trabalhavam, mas nem todo mundo tem essa possibilidade.
Além disso, se você é uma pessoa inovadora, empreendedora e qualificada para o mercado de trabalho, não suporta a ideia de ficar 8 horas estudando para uma prova de concurso, e pode viver sem a segurança de uma renda mensal fixa, pode vir ganhar mais no setor privado do que no setor público. É mais desafiador, menos garantido, mas os ganhos são potencialmente muito superiores. Não é a realidade da grande massa trabalhadora, que ganha menos do que muita gente no serviço público – mas, infelizmente, essa mesma massa não tem qualificação alguma para conseguir se sobressair. Mas não se engane. É necessário muito esforço e dedicação para ganhar uma boa renda, seja por meio da aprovação em um bom concurso, seja na investida em um emprego no setor privado.
5 de abril, 2011 às 21:34
Fonte: http://blogs.advfn.com/artigos/financas-pessoais/concurso-publico-ou-emprego-no-setor-privado

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